segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O jogo da Cabra e o Ginjabol


Um dos desportos nacionais no Afeganistão é o Buzkashi. Trata-se de um jogo centenário, que consiste basicamente num percurso feito pelos jogadores a cavalo, entre dois postes colocados nos extremos dum campo, que disputam uma cabra entre si. A equipa de um lado tem de levar a cabra até ao campo do adversário, dar a volta ao poste oposto e regressar à base sem sofrer perdas de “bola”. Chegando a estar com 50 cavaleiros em simultâneo no terreno, a particularidade do jogo é a “bola” ser uma cabra. Cortam as patas e a cabeça à desgraçada, removem-lhe as entranhas, enchem-na de areia, cosem-na, e fica assim a marinar de um dia para o outro. No dia seguinte vai directa para o campo de jogo.

Os jogos podem durar dias, e são muito violentos, sendo que os cavaleiros usam roupas muito pesadas e protecções para a cabeça, evitando os golpes de chicote e botas dos adversários. Inclusive já recebemos no hospital, um jogador com as costelas todas partidas...
Mas a população ficou realmente atónita, quando lhes contei que uma organização a sério, é aquela que surge em torno de uma partida de Ginjabol!
Passo a explicar!

No próprio dia do jogo, as forças policiais habitulmente dispõem-se em bloco, em torno das roulottes mais importantes, para permitir a entrada de uma forma ordeira e sóbria no recinto. À polícia montada está reservado o show erótico, que antigamente era perpetrado pelas manas Romanov e sua caniche da Tasmânia. Toda a festa se monta em redor da praça de touros onde decorre a partida.

Quando os bravos machos jogadores da selecção entram em campo, com os seus ursinhos de peluche, robe, pijama e rolos no cabelo, são entusiasticamente recebidos com serpentinas de papel higiénico, balões de sebo de girafa, algálias de longa duração, e exfoliantes de casca de tremoço das raras quintas capitalistas e feudais de Corroios.
Este jogo desenrola-se por tradição, numa arena circular com três orifícios na zona central, com cerca de 8 cm de diâmetro, e cada equipa é constituída por 7 elementos que rotativamente aplicam a sua jogada. Em cada uma destas jogadas se bebe uma ginjinha, seguida de um lançamento do respectivo caroço a partir de vários círculos a diferentes distâncias dos tais orifícios centrais. Os círculos mais distantes dos orifícios centrais dão uma maior pontuação, pelo que essas apostas são habitualmente utilizadas pelos jogadores com maior capacidade de sopro, e em alturas onde se pretendem recuperações de desvantagens no marcador.
Há no entanto várias técnicas de arremesso do caroço: uns enchem o peito de ar e cospem com precisão militar o caroço, outros lançam o caroço na vertical e de seguida chutam-no, e outros há ainda, que tapam uma narina e fecham a boca, arremessando o míni esférico pela narina oposta. Nestas ocasiões o caroço é envolvido por um ranho verde e viscoso que permite uma aterragem com maior acerto, pois o atrito é maior.
Em extremos diametralmente opostos da arena, coloca-se a equipa técnica de cada uma das selecções, com toda a parafernália necessária ao decorrer do jogo. Uma vez que este se pode prolongar durante horas, a máquina de imperiais é essencial para que se mantenha uma boa hidratação dos jogadores, enquanto o tradicional banco de suplentes é substituído por mesas corridas onde abundam os leitões assados, javalis no espeto, codornizes de Albufeira, saladas de frutas, e chamuças gigantes. O grupo de assistência técnica é formado por massagistas faciais, ensaiadores de sopro, psicólogos de sábado, quiromantes, cartomantes e especialistas de decoração Feng-Shui.
Neste tipo de provas, a equipa fixa de arbitragem é habitualmente constituída por dez elementos, uma vez que têm um grande desgaste. No lançamento de cada uma das equipas, o árbitro principal brinda, e ingere a ginja e o caroço. Os que têm um maior índice de massa corporal suportam várias jogadas seguidas, mas quando começam a andar de gatas para validar os caroços nos buracos, têm de ser rápidamente substituídos.

Nestes jogos, os míticos penáltis pertenciam ao melhor elemento da equipa da Selecção, conhecido como o “Versus”, que desempenhava os chamados penáltis invertidos, com consequente cambalhota e arremesso da pevide ao buraco. Um portentoso jogador era também o “Gasgas”, que de tão rápido que era a engolir a ginja, por vezes até engolia o caroço. Outra verdadeira lenda do Ginjabol, era o “Muf”. Uma pontaria certeira, umas trajectórias elípticas, o maior número de jogadas seguidas sem cair em campo! Tornou-se uma verdadeira imagem de marca, ter sempre o bacalhau assado e a máquina de imperiais por sua conta...
Mas estes torneios, tinham a vantagem de ser um motor impulsionador da economia local, pois a sua preparação durava dias, e o jogo propriamente dito era capaz de prolongar-se por horas a fio. Durante todo este período de festa, eram consumidas toneladas de géneros alimentícios e milhares de milhões de hectomililitros de cerveja Bávara.
Mesmo quando se dava por terminada a disputa, que ocorria quando dois terços dos elementos de uma das equipas ia parar ao Hospital, a vitória era celebrada num qualquer bar da localidade, com uma sanfona, percussão e vários instrumentos de cordas, congratulando-se todos pela sua equipa ter aplicado certeiramente a brilhante teoria do fole durante o jogo...

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