sábado, 22 de agosto de 2009

Clube Sport Marítimo


“Lá vem, lá vem, os nossos maravilhas,
Os endiabrados, Campeões das ilhas,
Não há, não há, não há outro igual
Como o Marítimo, o mais popular...”


Esta marchinha popular, cantada pela esfusiante cançonetista Laura Alves, apenas a tenho num velhinho vinil de 45 rotações, que já não consegue ocupar espaço no vanguardista ipod.
A bem dizer da verdade, nunca percebi muito de táctica de jogo, de saber os nomes dos jogadores de cor, o ano, mês, dia e hora em que o Checa marcou o golo ao Farruca, e muito menos acompanhar os treinos da equipa de juniores.

Desde as reminiscências do meu avô que não cheguei a conhecer, e em cujo cartão de sócio muito antigo, se destaca uma participação como secretário do clube, até ao fanatismo do meu pai, que deixou de ir ao estádio porque sofria a bem sofrer com o jogo, é natural que a minha existência se fosse alimentando das vitórias do clube do campo da barca. Era o clube do povo!

Quando o meu irmão tinha 13 ou 14 anos e era dotado para o jogo da bola, o Nacional apresentou uma proposta para lhe fazer um contrato “à séria”, mas assim que o mostraram ao meu pai, resposta imediata:
-“Não senhor! Ou é pró Marítimo, ou nã vai para lado nenhum!” Ah ganda papá!

Na altura, o meu pai não cobrava a consulta aos padres, freiras, pessoal da Ribeira Brava, doentes que achasse sem posses, e claro está...aos jogadores do Marítimo.

Lembro-me de aos domingos à tarde, me deitar na sua cama, no quarto cheirando a uma doce mistura de tabaco e perfume, já acordado da sua sesta, a ouvir o relato do Posto Emissor do Funchal, maldizendo os adversários e o árbitro, ao mesmo tempo que sofria com as ofensivas contrárias. Se o Marítimo perdia, rezondava os jogadores para o alto: “Estes gajos nã prestam pa nada! nãm correm à bola! parece que nãm têm garra! estes brasilheiros são moles”, quase que rasgando o cartão e dizendo que nunca mais pagava as quotas.

Tudo não passavam de ameaças e descompressões, e a prova de fidelidade materializou-se, quando recebeu a medalha de ouro do clube...50 anos de sócio (pagante...).

Uma herança destas não se discute. Recebe-se, honra-se e transmite-se. O Francisquinho já é sócio desde que nasceu!

Os jogos e o ambiente no estádio dos Barreiros eram empolgantes, começando sempre com a charanga do nobre hino do Marítimo, enquanto um homem dava uma volta completa ao campo com uma cruz de alecrim de dois metros a fumegar, afugentando o mau olhado à equipa. Eu gostava mais de ir para o peão do que para a central, ficando de pé, ao lado dos pescadores e bêbados locais, e fartando de me rir com as “bocas” que mandavam durante o jogo, num típico sotaque madeirense cerrado: “Vái Calistre! Infilhitra-te e cruza pó sarrame!”

É difícil ao longo de toda a infância e adolescência, resistir à paixão de um clube que serve de bandeira mais do que a própria região. Desde a brilhante conquista do Campeonato de Portugal em 1926, com uma equipa de rudes estivadores e pescadores que se bateram contra os Belenenses da metrópole, à célebre digressão em África nos anos 50, e até as participações na Taça UEFA, o nosso Marítimo tem umas cores e uma alma que me faz esquecer qualquer outro clube com maior palmarés.

“...Com o faúlhar das suas vitórias, com a simpatia da sua correcção, e com a espontânea e inalterável alegria, os atletas do Marítimo fizeram, ao sul do Equador, a melhor e a mais sadia propaganda da Madeira. Tornaram-na mais conhecida e adorada, e mais fizeram crescer na Metrópole, o prestígio do futebol insular. (...) Mais do que o futebol – repetimos – é a Madeira que está em causa. Palmas, flores, músicas e hinos em coro, esperam o Marítimo no seu regresso ao doce Lar Madeirense. (...) Benvindo seja o Marítimo, e glória aos seus triunfos...”

Costumam perguntar-me amiúde, que dos “grandes”, qual é o meu clube.
Respondo sempre que “dos grandes...sou só do Marítimo!”
“Com Orgulho! E Altivez!”

Legenda da foto:

De pé: Abel Gomes(suplente),Silvestre Rodrigues, Francisco Vasconcelos,João Pimenta.José Rodrigues(Barrinhas),João Mota e Albin Yud.Sentados: Francisco Vieira,António Castro,Cornélio da Silva,Luís Gouveia e José de Sousa.

2 comentários:

  1. ainda me lembro quando nos deixaram entrar nos campeonatos nacionais depois de 50 anos de proscrição. Porque também ganhávamos campeonatos de Portugal?

    Num clube de tanta tradição democrática que até adoptamos como cores as da República.
    E já houve maior demonstração de luta contra a hegemonia do Alberto João como quando este falou de unificar os clubes da Madeira?

    Mais do que um clube somos uma verdadeira Instituição. Inabalável. "com Orgulho e Altivez"
    Vamos a eles...

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  2. Francisquinho diz:
    Vivó "Matítimo"!
    Bjs.
    Nós.

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