quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A inspiração

Pode-se estar umas horas, uns dias, uns meses, até anos sem ela, mas quando aparece funciona como uma mola que desengatilha o fluxo de criatividade do pintor, do compositor, do coreógrafo, do escritor, ou de todos aqueles que a necessitam.

Uma das características que muito determina um artista é a inspiração. Sem ela nada funciona e corre-se o risco de repetir ou inventar algo já experienciado ou vivido.

Afastar as nuvens que encobrem os momentos de monotonia, é muitas vezes tarefa simples que fazemos reforçando o vento, e noutras aparece de forma tão simplória como se tivesse acabado de dobrar a esquina de mãos nos bolsos.
É curioso que a inspiração fisiológica seja o movimento de entrada de ar dentro da via aérea, enquanto a inspiração filosófica se transmita exatamente pela via contrária, acontecendo de dentro para fora. Deveríamos considerá-la uma expiração e não uma inspiração!
Mas neste jogo de palavras, a acções inspiradoras vêem-se reflectidas de várias componentes que encerram muita da nossa alma. A sabedoria, a sensibilidade, a(s) experiência(s), a influência, a necessidade, o engenho, os sentidos, os sentimentos, e até os empurrões aditivos catapultam os pensamentos criativos.
Tenho por certo que nasce muito do trabalho, mas também da capacidade do eu em criar e reinventar algo de novo. As ideias não brotam porque sim, mas progridem porque alguém pensou nelas, alguém se dedicou a elas. Outras vezes acontecem ocasionalmente como se do nada viessem, e algumas até nada merecem de tão pouco inspirado que foi o desenrolar da germinação.
Pode ser um processo tão rápido como a inspiração de uma jogada fabulosa do Ronaldo, ou uma inspiração frutada que permite a descoberta da lei da gravidade, ou um discurso flamejante e emocionado de um orador, ou uma prosa versada na beleza das palavras, ou uma coreografia que rompe com a estática e estética do movimento saturado por outros. Toda a criação precisa de inspiração!
Os génios precisam de inspiração e ninguém sabe qual é a fonte certa. Os pais podem ser uma inspiração, a arte pode ela mesma servir de inspiração, o outro pode servir de inspiração, o ambiente pode propiciar a inspiração, e há até quem recorra a drogas para que lhe desça a inspiração que muitas vezes tarda em aparecer. Não se bebe, não se fuma, não se injeta, simplesmente aparece, como as teorias do fole que brotam espaçadamente conforme a ventania do autor.
Por outro lado, quanto mais nos aplicarmos num tema, mais binómios tentativa-erro vão aparecer, aprimorando a obra ao ponto de podermos desencadear um acto de inspiração memorável, mudando o rumo e criando muitas vezes uma obra-prima.
Também é certo que quanto mais lermos, quanto mais estudarmos, quanto mais praticarmos, quando no fundo mais nos munirmos de informação e de variabilidade de informação, mais as nossas circunvalações terão capacidade para misturar o conhecimento e daí partir para plataformas de genialidade que podem culminar numa obra perfeita.
Esta base de sustentação que nos serve de suporte ao essencial daquilo que vamos alimentar, será mais forte quanto mais conteúdos tiver. E sem ela é impossível concretizar acções. Sem saber ler e escrever é impossível conceber uma narrativa, sem conhecer a bioquímica é impossível inventar novas moléculas, só com saber trautear não se erguem sinfonias, sem sementes de conhecimento não se cultivam campos de saber.
Depois virá a diversificação e amplificação daquilo que já dominámos, permitindo-nos alargar horizontes, cruzar várias genéticas ou aprimorar canais com inspirações que lhe dão uma dimensão inexistente até ali. Quanto mais mundo virmos, ouvirmos e vivenciarmos, maior e melhor será tudo aquilo que criamos. Quanto mais knowledge, mais fácil e rica será a nossa inspiração.
Não sei se vem da razão ou do coração. Sabemos que os neurónios desempenham um papel importantíssimo na interligação e amplificação da rede, e no simplismo desta razão tão científica podemos desaguar no facilitismo de que tudo é razão e nada é coração. Mas certo é, que ainda ninguém conseguiu explicar onde fica a alma, onde fica o belo, onde fica o arrebato de inspiração. Os extremos de depressão ou de mania encaixados no rótulo de coração, será que saem em actos de genialidade explodindo em forma de escrita, música ou dança, ou será que têm um racional conciso e molecular?
Não sabemos..
Ainda...
Nestes mundos, o conhecimento do desconhecido é enorme, pelo que desejo que a inspiração nunca nos abandone!
Um abraço



2 comentários:

  1. Que os amigos nunca deixem de nos inspirar. Deixemo-nos inspirar pela amizade. Respiremos amizade. Vale a pena.

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  2. Um mundo por descobrir. Há tanta coisa que a ciência não explica. Será tudo bioquímica pura no nosso corpo? Circuitos neuronais definidos e por definir? A beleza da vida também é o que desconhecemos dela.

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