domingo, 6 de julho de 2014

O trabalho sem C



O trabalho sempre foi uma pedra de dois gumes: ora dá saúde, ora causa doença!

Dá saúde porque activa a mente e o corpo, sendo estas as duas partes mais importantes do eu e do nós como pessoas. Activa a circulação, estimula-nos o cérebro, ocupa-nos a mente, coloca-nos desafios muitas vezes mais complexos que um cubo de rubik. Parar é de facto morrer, e ninguém quer antecipar a sua morte cessando o que quer que seja. Mas tudo isto também é verdade se o trabalho que estivermos a fazer for minimamente aprazível, interessante, e dentro dos nossos horizontes de ideal de vida.

Caso contrário, teremos um trabalho que não nos trará saúde, mas sim doença. Porque irá gerar stress, ansiedade, insatisfação, descontentamento e como diria alguém famoso: inconseguimento, podendo nestes casos concluir que o trabalho não faz bem a ninguém...

Mas também há os trabalhos que de facto causam doença, directamente relacionada com a sua actividade: os mineiros com a maldita bronquite crónica, os aviadores com os tímpanos lixados, os atletas com artroses de velhinhos, os djs com ouvidos moucos, os salva-vidas com melanomas, não esquecendo os cervejeiros com cirrose, e os leitores da teoria do fole com surtos psicóticos. Aqui temos uma acção comprovada da relação causa-efeito de que tanto se fala na moda da ciência..

Sem dúvida, considero o trabalho uma das virtudes mais importantes para se alcançar o sucesso. Podemos ser muito espertos, muito sabedores, muito criativos, muito talentosos, mas sem o hábito enraizado de trabalhar nunca seremos ninguém, nem nunca alcançaremos algo que nos dignifique como prova superada por nós mesmos.

Podemos ter e gostar dos momentos de preguiça e lazer, mas o dia-a-dia daquilo pelo que nos esforçamos por ser, fazer, e ter, é o componente mais importante para atingirmos aquilo a que nos propomos. É por esta razão que os preguiçosos ou aqueles que se penduram no trabalho e dependência dos outros, nunca têm plenitude nem chamam obviamente oportunidades para si.

Curiosamente, na época moderna e na abordagem empresarial do trabalho, os tempos de lazer e de descanso são cada vez mais incentivados e aplicados, promovendo-se uma lógica de quase diversão  no trabalho. As grandes multinacionais têm ginásios, clubes de actividades, espaços de lazer e convívio, para que o trabalho que os seus funcionários executam, seja estimulado pela via do prazer e do bem-estar.

Historicamente, a maioria dos trabalhos eram de força, de labuta, de esforço físico intenso. O clássico sangue, suor e lágrimas. Isto porque se tornava penoso o esforço aplicado na lavoura, na construção, nas limpezas, essas sim objecto de trabalho e dedicação física intensa. Daí a simbologia que melhor representa o trabalho ser a foice e o martelo. Longe de analogias partidárias, faz sentido que sejam estes os instrumentos ilustrativos daquilo que primeiramente conseguimos pelo trabalho base: a lavoura e a construção.

Os trabalhos foram evoluindo de tal maneira, ao ponto de quase todos serem considerados de profissões, catalogando-se as diferentes actividades conforme os diferentes desempenhos específicos: médicos, cantoneiros, juízes, padeiros, pintores, professores e até imaginem-se: políticos! Apesar desta arrumação por etiquetas, nem assim podemos dizer que todas as profissões estão associadas ao trabalho...

Por estranho que pareça, o antagónico de trabalho dizem ser o ócio. E certo é que os ociosos dizem ter o trabalho mais intenso do mundo, isto porque lhes custa muito para usufruir dessa mesma ociosidade. Ou então trabalharam tanto que já não precisam auferir mais, para se deixarem sentados à sombra daquilo que fizeram, produziram ou conquistaram.

Trabalhar também se trata de uma aprendizagem. Faz parte de um processo que passa por ir aperfeiçoando as técnicas e o modus operandi, tentando ser o mais eficiente possível. No fundo não apenas tentar ser eficaz, mas tentar cada vez com menos recursos atingir objectivos mais rápidos e precisos. Claro que neste envolvimento, também cometemos erros, desvios e más interpretações, mas isso faz parte da aprendizagem por tentativa-erro, e permite-nos melhorar a abordagem do trabalho seguinte. Uma obra, uma relação, uma operação, um objectivo, dependem sempre da forma como nele investimos, e como nos empenhamos.

Trabalho implica empenho, dedicação, capacidade de análise, projecção, desenvoltura, num todo o género de aptidões adquiridas e melhoradas, que nos fazem crescer e ter sucesso. Não é o sucesso de aquisição ou conquista, mas sim a simples essência de nos podermos deleitar com o resultado do nosso próprio trabalho. Produzir é dar um bem ao mundo.

Nada se adquire sem trabalho ou dedicação ao trabalho. Nada cai do céu, nada se concretiza sem  essa atitude pró-activa. Não basta ser bom nem acreditar na sorte ou fortuna, para alcançar o que quer que seja. É preciso trabalho e mais trabalho, para conseguir o que os ingleses gostam de chamar de achievement...

Não nos cingindo apenas ao factor laboral, destaco o trabalho como instrumento de perseguição daquilo que nós traçamos como objectivo. Desde o trabalho em construir uma relação, o trabalho em cuidar de alguém, o trabalho de regular os nossos, a nossa própria profissão, a nossa escola, tudo deve implicar esforço e dedicação estruturada.

Nesta esfera que nos rodeia, e em que interagimos com tudo e com todos, fica a sensação de que por vezes deveríamos passar mais tempo a construir coisas. E digo coisas, exactamente com esse sentido literal da palavra "o que existe ou pode existir". Ou seja, prevê e incluí algo que podemos vir a ser responsáveis por criar.

No fundo, tudo dá trabalho. Pensar, ler, escrever, relacionar-se, manter as relações, criar um filho, acordar de manhã, estabelecer ligações, fazer e desfazer novelos. Para alguns há situações que implicam maior ou menor esforço, mas todas têm um ingrediente secreto, que se transforma na chave do sucesso: o trabalho.

Nada acontece por acaso, e se por um outro acaso maior, queremos ou desejamos algo ou alguém como nada na vida, temos mais é que arregaçar as mangas e lutarmos, moldarmos,  empenharmo-nos, no fundo trabalharmos...

E com isto tudo se mantêm e evoluem estruturas, ligações, objectivos.
Por isso...mãos à obra!

 


1 comentário:

  1. Tão bom! Uma parte essencial da vida. Adorei! Talvez pela educação que tive sempre e bons exemplos profissionais, sempre achei que devemos procurar fazer o nosso melhor, em qualquer emprego. Por nós, pelos outros, pela sociedade. Acima de tudo sentido de responsabilidade. Hoje em dia as pessoas dizem muitas vezes: fazer o mínimo possível é o meu objectivo. Não percebo como desligar quando não se cumpre o dever e como uma vida sem sentido de responsabilidade pode ter sentido. É certo que devemos ter um equilíbrio mas não desequilibrando este lado tão essencial.

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