quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Fole


fole
s. m.
1. Instrumento para soprar o lume, para introduzir ar nos canos do órgão, etc.
2. Taleira de couro.
3. Passadeira de couro, nos arreios das muares de diligências.
4. Árvore da Guiné.
5. Pop. Estômago.
6. Tufo, papo (na roupa que não assenta bem).
7. Parte dobrável e extensível de uma câmara fotográfica.
8. Caixa de acordeão.
9. Cam.-de-f. Corredor flexível de comunicações entre duas carruagens de passageiros.
adj. 2 gén.
adj. 2 gén.
10. Ant. Que é de má índole.
11. Beira Fruto podre ou nervado.



A sanfona sempre foi um instrumento que me agradou. Adapta-se à música tradicional, popular, clássica, erudita, e até o jazz a utiliza nas suas peças virtuosas numa muitas vezes aparente anarquia musical. Existem magníficos executantes deste instrumento que imprimem uma força e sonoridade única às músicas que interpretam.



Há quem diga que isso se deve ao fole e à sua famosa teoria, desenvolvida há muitos séculos por uma qualquer congregação secreta, que exercia a sua acção no campo das ciências do na altura “ó-culto”. Esta ciência era cantada diáriamente do cimo da torre mais alta de um grupo de aldeias de anões e cavalos pirilimpampantes, por um período de 32 minutos e 7 segundos.



Normalmente, essa digamos...oração, era acompanhada pelo som da fanfarra do Grupo de Amigos das Aldeias de Anões e Cavalos Pirilimpampantes (GAAACP), aparecendo como único solista a sanfona e o seu tocante de teclas, enquanto que a conjugação do verbo Pirilimpampar ocorria de forma harmoniosa e cadente:



“Eu Pirilimpampo
Tu Pirilimpampas
Ele Pirilimpampa
Nós Pirilimpampamos
Vós Pirilimpampais
Eles Pirilimpampam”



Este acompanhamento vocal era feito por um ganso amestrado e três velhinhas, que pelo simples facto de lhes faltar o ar para manter o "si" no sítio, emitiam cada uma, numa voz fininha, frágil e oscilante nas notas, harmónios e dinâmicas pouco celestiais. Estas figurinhas, mantinham sempre um ar compenetrado e profissional, quebrado apenas pelas inúmeras caretas hilariantes de boquinhas e olhos esbugalhados às notas agudas. Neste ramalhete, o coitado do ganso servia de sineta ao princípio e fim da música, com um sonoro “Quac” quando se lhe apertava o gasganete...



Mas a evolução da sanfona sofreu várias transformações e já não é apenas exclusiva do GAAAC. Hoje em dia existem sanfonas, acordeões, concertinas, gaitas e dezenas de versões caseiras, daquilo que é hoje também chamado o piano mais portátil do mundo.



O fole e toda maquinaria de teclas e botões que armadilham estas peças de arte custam centenas de euros, e é por esta razão que este é um desporto caro, mas cuja verdadeira vantagem é adaptar-se a qualquer tipo de instrumento em parelha. Já se viram sanfonas com as panpipes dos Andes, acordeões com solos de ukéléles, e concertinas com acompanhamentos de castanholas de osso de tucano das ilhas Vanuatu.



Mas a combinação mais perfeita é a da Sanfona Alpina, que consegue emitir notas em frequência gama, aliada ao grupo amador de largadores de traques estereofónicos. Este é um grupo de origem recente, oriundo de uma aldeia transmontana tradicional, constituído por 16 aldeões séniores, agrupados em diferentes categorias de peso, cujos elementos emitem a partir das suas próprias tubuladuras de gases interiores, as diferentes notas que irão constituir a harmonia final. Este conjunto destaca-se por possuir uma maior escala sonora que a habitual, conseguindo reproduzir para além das notas tradicionais constituidas pelo dó-ré-mi-fá-só-lá-sí-dó, o mais perfeito do “fóooooo”! Estas magníficas performances são sempre optimizadas através de técnicas de aumento da chamada “ventanajem inferior”. Este doping é sempre conseguido por uma dieta de forte feijoada e grão-de-bico, três ou quatro dias antes dos espectáculos, que ocorrem perante multidões frenéticas que concorrem a estas performances únicas e originais.



No fundo, a brilhante Teoria do Fole é a pedra chave no desenvolvimento de qualquer nova criação, e é aplicável em todos os campos das artes e letras. A sua fácil aplicação e os seus fundamentos fortemente científicos, são uma grande mais valia em qualquer sociedade organizada e evoluída.



Ela vai aparecer em todos os trabalhos realizados nesta humilde secção, de uma forma ou de outra, umas vezes mais alegre, outras mais esquizofrénica e outras até sob a forma de nuvem que também sorri, mesmo que com chuva.



Remata-se a crónica introdutória com uma salva ao melhor sanfonista dos Algarves e arredores (mais ou menos até Marte...):



“Viva il virtuoso Pipas y su sanfona di fole!”

5 comentários:

  1. Como tinha saudades de ler-te...
    EU.

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  2. meu irmão, não te exponhas tanto tempo a moleirinha ao sol...

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  3. nota-se que os ares de kabul te estão a fazer bem... e a gaita? também tem fole...
    abraços zebianos

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  4. É caso para dizer: Fole deste há pouco!

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  5. Tivera Vexa. excrito, logo no início, «GALTE» e eu teria tomado mais a tensão e premiria PageDown mais melodicamente, experando tropeçar n'algum trecho musical desses Grupos, tão raros nos dias d'hoje.
    Sendo Sénior (mesmo... repare na maiúscula), seu trecho recordou-me os tempos do Lyceu adonde, à época, se praticava tal tipo de melodia com o entusiasmo e a candura que são atributos da Juventude.
    Assim, poderei discordar da sua afirmação sobre a prática recente desta Arte — no século passado era trivial.
    Realço, sobretudo, que de Arte se trata pois, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, Artista é «Pessoa que, dedicando-se a uma arte, se liberta das pressões burguesas».
    A derradeira vez que apreciei tal musicalidade, foi na tropa, em Mafra. Tinha um camarada (de armas! honnit soit...), do Porto, que se tinha especializado (sabemos lá à custa de quais privações) em frequências betta, gamma e mudas (silenciosas); a sua lembrança permanece!
    Exprimia-se, manifestando os seus sentimentos, à vontade, quando o pelotão marchava em 2 filas — como era dos mais altos estava no fim da coluna.
    A sua vocação e institiva natureza, fazia com que se operassem fenómenos militares que nem o Tenente instructor alguma vez sonhara ver, nem saberia vocalizar em "Ordem Unida".
    As suas emissões betta ou gamma (mudas, mas odorosas) faziam com que, de imediato, o pelotão abrisse uma "avenida" (ancha de uns 150cm pelo menos) entre as filas de Cadetes; assim passava, caracoleando, a dita emissão perdendo-se, devagar, nas belas matas da Tapada de Mafra.
    Nunca esquecerei a prática pedagógica do poder da Guerra Biológica.

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