Aqui há uns anos, pouco depois do lançamento do álbum da Estudantina “Vivá Paródia”, fomos tocar à Rádio Renascença. O programa era em directo e difundido para todo o mundo, sendo que as comunidades portuguesas espalhadas por aí, tinham uma grande participação. Receber chamadas telefónicas da França, Luxemburgo ou até da Suíça não foi surpresa para nós. Agora, receber pedidos de músicas específicas do álbum, desde a longínqua Austrália, foi uma agradável surpresa!
Não sei se esta coisa que tanto o pessoal fala acerca da globalização, já não foi inventada há uns séculos atrás com o início das migrações. Se formos a ver os flamingos já fazem isso há muito tempo, ou seja o inverno no quentinho do sul, e o verão com as temperaturas amenas do norte. Se calhar os bichos descobriram os encantos das louras suecas antes que nós...
Mas provavelmente a globalização é um termo demasiado grosseiro para aquilo que se quer definir, e ao contrário daquilo que poderia parecer, um pouco limitado e contingente. No fundo, se pensarmos numa bola, esta por si só já nos delimita um espaço, uma ideia, um conteúdo que fica retido e preso pelas costuras do redondo esférico.
A imagem do universal é mais adequada, mais abrangente, menos limitativa e mais “openminded” para aquilo que se quer expressar.
Mas estou eu para aqui a falar das limitações do raio da pelota, quando a verdadeira virtude é a da uniformização e continuidade da sua única face. De qualquer perspectiva ocular se consegue adivinhar o mesmo prisma de pensamento, de qualquer ângulo se adivinha a mesma curvinha com igual secante e tangente, mas sobretudo quando ela rola, rola sempre para o mesmo lado, e em linha recta!
Tudo o que é pensamento, acto e até omissão, tanto se torna verdadeiro e sacramental para o aborígene australiano, como para o emigrante madeirense na ilha de Jersey. Por ora, e nos tempos que correm, talvez o koala aprenda a beber poncha com sabor a eucalipto, mas no futuro tenho a certeza que será tão natural enfrascar-se com aguardente de cana em Sydney, como fazer concursos de lançamento de bosta de camelo, como fazem nas caledónias, ao fresco clima da Camacha.
A partilha de informação, a troca de cartas e baralho, a volta e contravolta de um mero pensamento, pode fazer com que essa verdade simples e simplista possa ser aceite por um mundo novo, espraiando-se pela bola como chocolate derretido. Se tivermos um bom protocolo de actuação, podemos em teoria replicá-lo até a canseira nos permitir, aqui, ou em qualquer lugar do planeta.
E serão à primeira vista vantagens os modelos adoptados pela via da moda, do marketing ou do simples apego humano por aquilo que é apelativo mas sem consistência? É a globalização mais pela forma que pelo conteúdo?
A implementação mundial do Macdonalds, tem uma base de sucesso na homogeneidade da fórmula; onde quer que se vá, o hambúrguer tem sempre o mesmo sabor, a mesma apresentação, os mesmos molhos, o mesmo logótipo, a mesma solução rápida e prática de “serve-te, embucha, e põe-te a andar”. Em Cabo Verde por exemplo, poderíamos confiar naquela imagem e naquela confecção, mas o surgimento de uma xafarica destas, tem duas vertentes perniciosas a prever: primeiro, a de que os indígenas deixariam de se alimentar da sua dieta local eventualmente mais saudável que a dos gringos, e segundo, que os viajantes deixariam de ter o efeito surpresa da descoberta de novos sabores. Pode nessa altura surgir um híbrido: o McCachupa! E se for muito bom, a empresa pode fotocopiar o modelo e aplicá-lo aos chineses.
Perigos: se todos desatarem a comer estas bombas calóricas em vez da soja e do arroz, a vaca charolesa pode entrar em vias de extinção!
O mundo tende assim a ser uno e compartido à distância, sem revelações, sem surpresas, sem paixões, sem os antagónicos anacronismos da real subtileza da teoria do fole. As referências passam a ser universais, com o perigo de serem ultrapassadas e desconsideradas; as riquezas de cultura de matéria única, algumas com especificidades brilhantes, são capazes de ruir a um mero Mcnugget.
E tudo isto acontece, porque a pressão mundana de uma foto de revista que dá a volta ao mundo em trinta segundos, é maior que um pressuposto básico e centenário de uma cultura relacional de gerações.
Será que nesta homeostasia de conteúdos perfeitos e imperfeitos, na estabilização de extremos possivelmente coadjuvantes ou semelhantes, ou até na intersecção de relacionamentos incomuns e aberrantes, nasce a luzidia e expontânea mistura explosiva de uma nova criação de mais-valia universal?
Não sei...mas para mim nada se compara com uma espetada acompanhada de milho frito, à mesa da Pastelaria Santo António do Estreito!
E que ninguém a globalize se faz favor...!
Não sei se esta coisa que tanto o pessoal fala acerca da globalização, já não foi inventada há uns séculos atrás com o início das migrações. Se formos a ver os flamingos já fazem isso há muito tempo, ou seja o inverno no quentinho do sul, e o verão com as temperaturas amenas do norte. Se calhar os bichos descobriram os encantos das louras suecas antes que nós...
Mas provavelmente a globalização é um termo demasiado grosseiro para aquilo que se quer definir, e ao contrário daquilo que poderia parecer, um pouco limitado e contingente. No fundo, se pensarmos numa bola, esta por si só já nos delimita um espaço, uma ideia, um conteúdo que fica retido e preso pelas costuras do redondo esférico.
A imagem do universal é mais adequada, mais abrangente, menos limitativa e mais “openminded” para aquilo que se quer expressar.
Mas estou eu para aqui a falar das limitações do raio da pelota, quando a verdadeira virtude é a da uniformização e continuidade da sua única face. De qualquer perspectiva ocular se consegue adivinhar o mesmo prisma de pensamento, de qualquer ângulo se adivinha a mesma curvinha com igual secante e tangente, mas sobretudo quando ela rola, rola sempre para o mesmo lado, e em linha recta!
Tudo o que é pensamento, acto e até omissão, tanto se torna verdadeiro e sacramental para o aborígene australiano, como para o emigrante madeirense na ilha de Jersey. Por ora, e nos tempos que correm, talvez o koala aprenda a beber poncha com sabor a eucalipto, mas no futuro tenho a certeza que será tão natural enfrascar-se com aguardente de cana em Sydney, como fazer concursos de lançamento de bosta de camelo, como fazem nas caledónias, ao fresco clima da Camacha.
A partilha de informação, a troca de cartas e baralho, a volta e contravolta de um mero pensamento, pode fazer com que essa verdade simples e simplista possa ser aceite por um mundo novo, espraiando-se pela bola como chocolate derretido. Se tivermos um bom protocolo de actuação, podemos em teoria replicá-lo até a canseira nos permitir, aqui, ou em qualquer lugar do planeta.
E serão à primeira vista vantagens os modelos adoptados pela via da moda, do marketing ou do simples apego humano por aquilo que é apelativo mas sem consistência? É a globalização mais pela forma que pelo conteúdo?
A implementação mundial do Macdonalds, tem uma base de sucesso na homogeneidade da fórmula; onde quer que se vá, o hambúrguer tem sempre o mesmo sabor, a mesma apresentação, os mesmos molhos, o mesmo logótipo, a mesma solução rápida e prática de “serve-te, embucha, e põe-te a andar”. Em Cabo Verde por exemplo, poderíamos confiar naquela imagem e naquela confecção, mas o surgimento de uma xafarica destas, tem duas vertentes perniciosas a prever: primeiro, a de que os indígenas deixariam de se alimentar da sua dieta local eventualmente mais saudável que a dos gringos, e segundo, que os viajantes deixariam de ter o efeito surpresa da descoberta de novos sabores. Pode nessa altura surgir um híbrido: o McCachupa! E se for muito bom, a empresa pode fotocopiar o modelo e aplicá-lo aos chineses.
Perigos: se todos desatarem a comer estas bombas calóricas em vez da soja e do arroz, a vaca charolesa pode entrar em vias de extinção!
O mundo tende assim a ser uno e compartido à distância, sem revelações, sem surpresas, sem paixões, sem os antagónicos anacronismos da real subtileza da teoria do fole. As referências passam a ser universais, com o perigo de serem ultrapassadas e desconsideradas; as riquezas de cultura de matéria única, algumas com especificidades brilhantes, são capazes de ruir a um mero Mcnugget.
E tudo isto acontece, porque a pressão mundana de uma foto de revista que dá a volta ao mundo em trinta segundos, é maior que um pressuposto básico e centenário de uma cultura relacional de gerações.
Será que nesta homeostasia de conteúdos perfeitos e imperfeitos, na estabilização de extremos possivelmente coadjuvantes ou semelhantes, ou até na intersecção de relacionamentos incomuns e aberrantes, nasce a luzidia e expontânea mistura explosiva de uma nova criação de mais-valia universal?
Não sei...mas para mim nada se compara com uma espetada acompanhada de milho frito, à mesa da Pastelaria Santo António do Estreito!
E que ninguém a globalize se faz favor...!
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