Dizem que a matemática é o mais próximo que há de Deus, pois os números são artefactos engenhosos, criados pelo homem e para o homem, sem nunca existirem na natureza. Todas as fórmulas, se adicionam, subtraem e multiplicam em complexos arranjos que justificam a ordem das coisas. E tudo isto se torna mais fantástico e esotérico , quando nos apercebemos que os números não existem mesmo, são imaginários, são uma ilusão que nos tenta contingenciar pela ordem, o nosso mundo macro e microscópico.
Os números são omissos na existência da natureza criada por Deus, não são palpáveis. Nem o “3”, nem o “6”, nem sequer o “623”, o que existe sim, são três árvores, seis peixes, seiscentos e vinte e três pães, mas o número em si não cabe na Criação.
E se a matemática é assim, o que serão das palavras! As palavras que nos aproximam e que nos afastam das pessoas, que são tantas vezes causa de equívocos e zangas, mas também reconciliação, reconhecimento e afecto. Se todas têm um significado diferente, como poderemos baralhá-las para que se nos discorra o pensamento pela lógica dos sons e da sua articulação? Do centro da linguagem, numa qualquer área cinzenta, saem os comandos obedecidos pela emoção, que forçam a complexa musculatura a emitir aquilo que nos vai num sítio todavia mais misterioso: a Alma!
Uns falam e discorrem sem nunca nada dizer, outros usam as palavras para se ouvirem a si próprios, outros há que as poupam e logo as atiram de forma rude, emudecendo muitas vezes quem os ouve. Mas sobretudo não há que mal gastá-las com aqueles que não as merecem, ou que delas se apropriam e as usam como se de um eco se tratasse.
Cada uma representa um pensamento e uma ideia única, que não pode ser replicada nem abusada, sob o perigo de desvirtuarmos a fábrica de sonhos do seu autor: o pensamento. Sempre adorei ouvir, escutar, absorver todas as histórias e estórias que se contam nas reuniões familiares e de amigos. Parte da nossa sabedoria é feita de bocados dos outros...
Para falar não é preciso muito, mas para saber fazer-se entender, demonstrar aquilo que se pretende, exige um talento muitas vezes natural e intrínseco, sempre ao sabor dos ventos da gramática. Admiro imenso os artistas da escrita, porque colocam as palavras mudas num arranjo aparentemente irracional, ganhando a força certa com a cadência da leitura. A maneira como conseguem juntar as letras em palavras, e estas em frases, muitas vezes fazem-me ler a mesma frase duas e três vezes, amiúde na tentativa vã dela me apropriar, mas a maioria das vezes apenas pelo simplório prazer de me voltar a espantar com aquela conjugação! Quantas teorias do fole não se teriam espraiado pelas penas da escrita?
De qualquer das maneiras aprecio muito mais os quedos mudos espaços entre as palavras, ou aquelas palavras que se dizem em silêncio, em olhares, gestos simples ou sorrisos francos. O prazer do silêncio é muito maior do que qualquer retórica adjectiva, é inato e carece de explicação. É puro, simples e sereno.
Haverá algo melhor do que apreciar uma paisagem estonteante em silêncio, degustar um bom vinho no silêncio da noite, ou até mesmo sentar-se numa esplanada num dia de verão a ouvir o barulho da azáfama diária, em silêncio..?
Não devemos gastar as palavras com coisas inúteis, não as devemos cansar, não as devemos incomodar com esta mania de lhes delapidar o sentido quando as evocamos repetidamente e em vão. Um silêncio cúmplice ou um silêncio contemplativo, são um bem precioso que devemos saber apreciar e ao mesmo tempo saber partilhar.
Palavras para quê...?
“Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer”
MST in “No teu deserto”
MST in “No teu deserto”
palavras para quê? porque isto é lindo, lindo, lindo...
ResponderEliminar“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” Rubem Alves dixit
ResponderEliminarAssim se vê por onde tu andaste......
Bjs
As palavras leva-as o vento...
ResponderEliminarSilêncio...
Do silêncio faço um grito
e o corpo todo me dói
deixai-me chorar um pouco.
De sombra a sombra
ao céu tão recolhido
De sombra a sombra....
Um fado de Amália, dos meus preferidos.
Beijo
Eu
és boa pessoa. és simpático.além disso és inteligente!
ResponderEliminarboa pessoa+inteligente=sábio + simpático = sábio simpático. abraço