O estudo da história e das civilizações
antigas traz-nos muitos ensinamentos e lições que fazem eco nas atitudes de
hoje. Tudo se repete e tudo se volta a desenrolar num pressuposto de tábua
rasa, mas que efectivamente é a cópia de alguma revolução fascista ou comunista
que algures explodiu num qualquer canto do mundo.
Tudo porque a essência do homem é a
mesma, com os seus egos, as suas traições, desejos de poder, de glória, de
manipular o futuro, como se ganhar e perder com pessoas fosse um jogo de
tabuleiro, onde saltar peças e comê-las se transforma num atropelo corriqueiro
dos direitos humanos.
E se há verdades insofismáveis que
perduram centenas de anos, há outras que pelo seu pouco valor intrínseco se
perdem na inconsistência da sua existência, existindo ainda as que evoluem dentro de uma génese matricial
forte e duradoura.
Mas neste processo de fazer história,
depreende-se que cada passo seguinte é num sentido ascendente das mais variadas
vertentes sociais e humanas, que a cada passo que o homem avança se dignifica a
pessoa e o grupo. Por isso começaram a aparecer os sistemas democráticos de
gestão de comunidade, como sendo os sistemas mais equilibrados com a
heterogeneidade dos homens que a constituem. E isso foi conseguido à custa de
um papel cada vez mais importante do individual relativamente ao colectivo, o
que visto de longe, se aproxima em teoria daquilo que será o mais justo e
equitativo.
Na sociedade actual, o nível da
democracia é directamente proporcional ao grau de exigência dos seus cidadãos. Se lutarem pelas suas convicções
e as suas causas, encontrarão eco e ganharão relevância numa democracia sã, que
lhes dará o espaço necessário para as aplicar.
O que hoje vemos na Catalunha é o reflexo dessa maturidade(?), de uma democracia que
demorou décadas a construir no seio de uma Espanha que ganhou o seu caminho próprio,
levantando o orgulho ferido de uma ainda memória recente da dura ditadura
Franquista. Uma batalha que reconhecemos poder ser decalcada de um outro
momento determinante nesta história dos poderes.
Uma intenção que avançou como
quem tira um bilhete de autocarro, anunciando simplesmente uma declaração que
presumo eu não imaginaria as suas verdadeiras repercussões.
Independentemente
dos excessos que tenham sido cometidos e da violência sempre de condenar, o que aconteceu na Catalunha foi
o eclodir do desconforto sentido por alguns, da apatia de muitos, e do
aproveitamento enviesado de algumas personagens com perfis de líder. É nesta
exploração e gestão dos humores individuais que reside a motivação de uma
região que já tem identidade e características próprias, mas que questionamos
ser suficiente para a sua própria afirmação.
Ao longo da sua existência, esteve sob
as bandeiras e os caprichos de gregos, cartagineses, romanos, visigodos, árabes,
franceses, espanhóis, e todos eles reclamaram hegemonia própria. Não sejamos
redutores o suficiente para afirmar que um país se constrói porque tem uma bandeira, um idioma
ou uma fronteira com mais de x anos. Pode começar por aí, mas todo o processo
tem de ser guiado com sabedoria e engenho político. Estas revoluções em
democracias consolidadas, não podem nunca ser intempestivas nem disruptivas,
porque criam uma tal instabilidade e uma perturbação daquilo que é um
quotidiano diria eu sereno, que colocam todos os intervenientes e as suas populações
numa posição de levianos extremismos. E a partir daqui é muito fácil resvalar
para o caos e para as intransigências sob o chapéu da argumentação da liberdade
e convicção dos povos.
Respeito obviamente as vontades das
pessoas, e provavelmente por ignorância não percebo este afunilar de decisão
numa independência abrupta e mal preparada. Concebo que a Catalunha tenha em
perspectiva um futuro sob desígnio próprio, se assim for o desejo da sua maioria,
mas também compreendo uma Espanha que vê uma disrupção da sua identidade comum.
Às duas partes se pede diálogo e abertura de mentalidades, para que se percebam
quais os verdadeiros interesses e vontades das pessoas e não se esgrimam
bandeiras políticas que bastas vezes são ocas daquilo que é a vida no dia-a-dia.
Colocam-se desnecessariamente irmãos em disputa, famílias em conflito, empresas
em pânico, alimentam-se inseguranças, deflagram atritos que nunca existiram à mesma
mesa de casa. Abriram-se feridas nesta sociedade que com muita dificuldade irão
sarar, e desconhecemos quais as suas reais consequências num futuro próximo.
E talvez mais abrangente que isto, é que
a Europa se ressente destes esgares de regionalismo, na medida em que a própria
Europa se tenta reerguer sob uma batuta de unificação e uniformização, mantendo
as diferenças e identidades locais e resistindo a afogar-se num contexto de
globalização mundial.
As revoluções do mundo moderno não
podem ser geoestratégicas ou políticas, e muito menos de afirmação masturbatória.
Têm de ser revoluções sociais e humanitárias, que movam consciências e
consolidem aquilo que de mais valioso temos:o Planeta e o Homem.
Por esta ordem…
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