Uma das características que muito
determina um artista é a inspiração. Sem ela nada funciona e corre-se o risco
de repetir ou inventar algo já experienciado ou vivido.
Afastar as nuvens que encobrem os
momentos de monotonia, é muitas vezes tarefa simples que fazemos reforçando o
vento, e noutras aparece de forma tão simplória como se tivesse acabado de
dobrar a esquina de mãos nos bolsos.
É curioso que a inspiração fisiológica
seja o movimento de entrada de ar dentro da via aérea, enquanto a inspiração
filosófica se transmita exatamente pela via contrária, acontecendo de dentro
para fora. Deveríamos considerá-la uma expiração e não uma inspiração!
Mas neste jogo de palavras, a acções
inspiradoras vêem-se reflectidas de várias componentes que encerram muita da
nossa alma. A sabedoria, a sensibilidade, a(s) experiência(s), a influência, a
necessidade, o engenho, os sentidos, os sentimentos, e até os empurrões
aditivos catapultam os pensamentos criativos.
Tenho por certo que nasce muito
do trabalho, mas também da capacidade do eu
em criar e reinventar algo de novo. As ideias não brotam porque sim, mas
progridem porque alguém pensou nelas, alguém se dedicou a elas. Outras vezes
acontecem ocasionalmente como se do nada viessem, e algumas até nada merecem de
tão pouco inspirado que foi o desenrolar da germinação.
Pode ser um processo tão rápido
como a inspiração de uma jogada fabulosa do Ronaldo, ou uma inspiração frutada
que permite a descoberta da lei da gravidade, ou um discurso flamejante e
emocionado de um orador, ou uma prosa versada na beleza das palavras, ou uma
coreografia que rompe com a estática e estética do movimento saturado por
outros. Toda a criação precisa de inspiração!
Os génios precisam de inspiração
e ninguém sabe qual é a fonte certa. Os pais podem ser uma inspiração, a arte
pode ela mesma servir de inspiração, o outro pode servir de inspiração, o
ambiente pode propiciar a inspiração, e há até quem recorra a drogas para que
lhe desça a inspiração que muitas vezes tarda em aparecer. Não se bebe, não se
fuma, não se injeta, simplesmente aparece, como as teorias do fole que brotam
espaçadamente conforme a ventania do autor.
Por outro lado, quanto mais nos
aplicarmos num tema, mais binómios tentativa-erro vão aparecer, aprimorando a
obra ao ponto de podermos desencadear um acto de inspiração memorável, mudando
o rumo e criando muitas vezes uma obra-prima.
Também é certo que quanto mais
lermos, quanto mais estudarmos, quanto mais praticarmos, quando no fundo mais
nos munirmos de informação e de variabilidade de informação, mais as nossas
circunvalações terão capacidade para misturar o conhecimento e daí partir para
plataformas de genialidade que podem culminar numa obra perfeita.
Esta base de sustentação que nos
serve de suporte ao essencial daquilo que vamos alimentar, será mais forte
quanto mais conteúdos tiver. E sem ela é impossível concretizar acções. Sem saber
ler e escrever é impossível conceber uma narrativa, sem conhecer a bioquímica é
impossível inventar novas moléculas, só com saber trautear não se erguem
sinfonias, sem sementes de conhecimento não se cultivam campos de saber.
Depois virá a diversificação e
amplificação daquilo que já dominámos, permitindo-nos alargar horizontes,
cruzar várias genéticas ou aprimorar canais com inspirações que lhe dão uma
dimensão inexistente até ali. Quanto mais mundo virmos, ouvirmos e vivenciarmos,
maior e melhor será tudo aquilo que criamos. Quanto mais knowledge, mais fácil e rica será a nossa inspiração.
Não sei se vem da razão ou do
coração. Sabemos que os neurónios desempenham um papel importantíssimo na interligação
e amplificação da rede, e no simplismo desta razão tão científica podemos
desaguar no facilitismo de que tudo é razão e nada é coração. Mas certo é, que
ainda ninguém conseguiu explicar onde fica a alma, onde fica o belo, onde fica
o arrebato de inspiração. Os extremos de depressão ou de mania encaixados no
rótulo de coração, será que saem em actos de genialidade explodindo em forma de
escrita, música ou dança, ou será que têm um racional conciso e molecular?
Não
sabemos..
Ainda...
Nestes mundos, o conhecimento do
desconhecido é enorme, pelo que desejo que a inspiração nunca nos abandone!
Um abraço