quinta-feira, 24 de julho de 2014

Honest-age


Para além do trabalho, a honestidade é outra das virtudes essenciais ao sucesso. Mais uma vez, independentemente das características ou atributos de alguém, este é um bem intrínseco pelo qual devemos lutar para que se interiorize e mantenha nas nossas vidas, transformando-se quase numa bandeira ou num desígnio de luta.

Não sei se a podemos definir como uma qualidade, uma característica, uma aptidão, um mecanismo ou conceito de viver, mas é de certeza um valor nuclear que permite à espécie humana distinguir-se das restantes. Devemos ser honestos connosco, com os outros e entre nós.

A honestidade para com terceiros, coloca-nos num patamar de confiança que permite ao outro saber que o nosso alicerce é aquele. Seja da forma que ele se comportar, sabe que a nossa honestidade é o reflexo da transparência e sinceridade. Por isso a honestidade é tão importante. Porque engloba uma série de outros pressupostos e valores de carácter concreto, tais como a sinceridade, a confiança, a justiça, a franqueza, a coerência, a responsabilidade, a correcta postura filosófica de uma forma de vida.

O simples facto de os outros saberem com aquilo que contam por parte do honesto, poderá parecer uma fraqueza. Fraqueza no sentido de que poderão explorar essa honestidade, e daí tirar vantagem numa qualquer situação. Nada mais errado! Aqui a honestidade poderá ser percepcionada como tal, mas transforma-se numa arma muito poderosa pelo simples facto de ser na sua essência, genuína e imutável. A constância e solidez da honestidade, é como um desfile militar: simples, ordenado, transparente, e sabendo que para lá é o caminho.

Por exemplo, com estas atitudes sabemos que um vendedor da teoria do fole que vende um produto maluco, fornece a confiança suficiente para que os outros saibam que vão adquirir a maluquice naquela dose que estão à espera. Da mesma maneira o merceeiro honesto vende a fruta fresca, o padeiro honesto vende carcaças do dia, e o aluno honesto pode virar-se para o professor e retorquir: "não percebi"...

A honestidade pode ser inata, mas tem também uma componente dinâmica e de treino regular, quase como uma religião. O honesto praticante, algumas vezes tem de frontalmente assumir a sua honestidade perante as situações com que se depara. Se eu encontrar um envelope com dinheiro na rua, terei de frenar o ímpeto de ficar com ele, se receber um segredo de alguém terei de saber guardá-lo, se prometi jogar à bola ao fim da tarde terei de cumprir a minha promessa. Por isso é um exercício diário, umas inconsciente e outras conscientemente, de uma postura de vida recta e com rumo certo.

Mas nem sempre conseguimos isso. Só os santos são cem por cento honestos, e ainda assim veja-se Judas...

Mesmo com o conceito enraizado, não quer dizer que por vezes não fujamos dessa linha de orientação e conduta. O que também não significa que sejamos desonestos. Ter falhas de honestidade não se transforma no fim do mundo, mas não se pode é ser recorrentemente desonesto e viver nessa lógica permanente, como vivem algumas pessoas. Todos tivemos os nossos momentos de desonestidade, mas o importante é que a nossa vida se paute pelo trilho da integridade e reflexão desses momentos de lapsos de atitude. Só assim poderemos aceitar que este é um processo em contínua evolução e consolidação.

Por curioso que pareça, a honestidade também existe nos maus ambientes e nas disputas regulares. Tomemos a referência da guerra, em que alguns pressupostos "honestos" são honestamente cumpridos. Num campo de batalha respeitam-se geralmente as bandeiras brancas, as equipas de saúde, os cessar-fogos, os controlos de pilhagens, certo? É de comum senso que os prisioneiros de guerra sejam tratados com dignidade e respeito, com cumprimento honesto das regras entre vencedores e vencidos. Que contra-senso, a existência de actos de honestidade nestes cenários de Dante, verdade...?

Na lógica inversa e seguindo o reflexo do espelho, podemos ver aqueles que apregoam honestidade através de alguns actos honestos e colaborantes. Solícitos, prestáveis e sedutores, muitos são, na sua essência diária desonestos, apesar de darem uma imagem contrária. Nunca cair nesta malha ao primeiro engodo, embora admita que pode ser difícil. É aquilo a que o pensamento popular identificou já há muito: o chamado lobo vestido com pele de cordeiro...

A honestidade nem sempre é o caminho mais fácil de escolher. Pela simples razão que implica muitas vezes a nossa preterição e abnegação, de algo que à partida poderá ter algum valor. Porque por vezes ser honesto, é abdicar de algo que até poderia ser bom para alguém ou para o próprio, mas o conceito de honestidade tem outro implícito, que é a coerência. Coerência nas escolhas e atitudes que reflectem a nossa honestidade. Apenas como exemplo, designo a coerência em abdicar de um determinado prazer ou luxo, porque os nossos princípios nos afastam do desperdício.

Sempre houve e sempre haverá desonestidade neste mundo, mas temo que a honestidade de hoje não seja a mesma de ontem. A de ontem, fazia-se cumprir por pressupostos e regras comummente aceites como imutáveis, como um código de honra que nunca pode ser desrespeitado. Selar contratos com simples apertos de mão, é de um simbolismo tão grande e tão eloquente, que chegamos a ter consideração pelos mafiosos....

Como se pode ver, uma palavra que engloba tantos pergaminhos e tantos submundos escondidos, confere uma força e um carácter enormes a quem a usa e abusa, a quem a pratica e a quem a cumpre com rigor, daí colhendo os seus frutos e vivendo na plenitude da paz.

Acima de tudo, significa um grande legado transmissor que é o da responsabilidade. Responsabilidade no contágio destes conceitos, de forma a que se espalhem e se tornem universais, de forma a que criem um núcleo social de referência, de forma a que se tornem estruturais e virais. Sobretudo para aqueles que nós próprios criamos de perto.

É este valor seguro que vejo e revejo nos meus pais, e é este valor seguro que quero demonstrar e passar aos meus filhos.
Nos actos e nas omissões.

domingo, 6 de julho de 2014

O trabalho sem C



O trabalho sempre foi uma pedra de dois gumes: ora dá saúde, ora causa doença!

Dá saúde porque activa a mente e o corpo, sendo estas as duas partes mais importantes do eu e do nós como pessoas. Activa a circulação, estimula-nos o cérebro, ocupa-nos a mente, coloca-nos desafios muitas vezes mais complexos que um cubo de rubik. Parar é de facto morrer, e ninguém quer antecipar a sua morte cessando o que quer que seja. Mas tudo isto também é verdade se o trabalho que estivermos a fazer for minimamente aprazível, interessante, e dentro dos nossos horizontes de ideal de vida.

Caso contrário, teremos um trabalho que não nos trará saúde, mas sim doença. Porque irá gerar stress, ansiedade, insatisfação, descontentamento e como diria alguém famoso: inconseguimento, podendo nestes casos concluir que o trabalho não faz bem a ninguém...

Mas também há os trabalhos que de facto causam doença, directamente relacionada com a sua actividade: os mineiros com a maldita bronquite crónica, os aviadores com os tímpanos lixados, os atletas com artroses de velhinhos, os djs com ouvidos moucos, os salva-vidas com melanomas, não esquecendo os cervejeiros com cirrose, e os leitores da teoria do fole com surtos psicóticos. Aqui temos uma acção comprovada da relação causa-efeito de que tanto se fala na moda da ciência..

Sem dúvida, considero o trabalho uma das virtudes mais importantes para se alcançar o sucesso. Podemos ser muito espertos, muito sabedores, muito criativos, muito talentosos, mas sem o hábito enraizado de trabalhar nunca seremos ninguém, nem nunca alcançaremos algo que nos dignifique como prova superada por nós mesmos.

Podemos ter e gostar dos momentos de preguiça e lazer, mas o dia-a-dia daquilo pelo que nos esforçamos por ser, fazer, e ter, é o componente mais importante para atingirmos aquilo a que nos propomos. É por esta razão que os preguiçosos ou aqueles que se penduram no trabalho e dependência dos outros, nunca têm plenitude nem chamam obviamente oportunidades para si.

Curiosamente, na época moderna e na abordagem empresarial do trabalho, os tempos de lazer e de descanso são cada vez mais incentivados e aplicados, promovendo-se uma lógica de quase diversão  no trabalho. As grandes multinacionais têm ginásios, clubes de actividades, espaços de lazer e convívio, para que o trabalho que os seus funcionários executam, seja estimulado pela via do prazer e do bem-estar.

Historicamente, a maioria dos trabalhos eram de força, de labuta, de esforço físico intenso. O clássico sangue, suor e lágrimas. Isto porque se tornava penoso o esforço aplicado na lavoura, na construção, nas limpezas, essas sim objecto de trabalho e dedicação física intensa. Daí a simbologia que melhor representa o trabalho ser a foice e o martelo. Longe de analogias partidárias, faz sentido que sejam estes os instrumentos ilustrativos daquilo que primeiramente conseguimos pelo trabalho base: a lavoura e a construção.

Os trabalhos foram evoluindo de tal maneira, ao ponto de quase todos serem considerados de profissões, catalogando-se as diferentes actividades conforme os diferentes desempenhos específicos: médicos, cantoneiros, juízes, padeiros, pintores, professores e até imaginem-se: políticos! Apesar desta arrumação por etiquetas, nem assim podemos dizer que todas as profissões estão associadas ao trabalho...

Por estranho que pareça, o antagónico de trabalho dizem ser o ócio. E certo é que os ociosos dizem ter o trabalho mais intenso do mundo, isto porque lhes custa muito para usufruir dessa mesma ociosidade. Ou então trabalharam tanto que já não precisam auferir mais, para se deixarem sentados à sombra daquilo que fizeram, produziram ou conquistaram.

Trabalhar também se trata de uma aprendizagem. Faz parte de um processo que passa por ir aperfeiçoando as técnicas e o modus operandi, tentando ser o mais eficiente possível. No fundo não apenas tentar ser eficaz, mas tentar cada vez com menos recursos atingir objectivos mais rápidos e precisos. Claro que neste envolvimento, também cometemos erros, desvios e más interpretações, mas isso faz parte da aprendizagem por tentativa-erro, e permite-nos melhorar a abordagem do trabalho seguinte. Uma obra, uma relação, uma operação, um objectivo, dependem sempre da forma como nele investimos, e como nos empenhamos.

Trabalho implica empenho, dedicação, capacidade de análise, projecção, desenvoltura, num todo o género de aptidões adquiridas e melhoradas, que nos fazem crescer e ter sucesso. Não é o sucesso de aquisição ou conquista, mas sim a simples essência de nos podermos deleitar com o resultado do nosso próprio trabalho. Produzir é dar um bem ao mundo.

Nada se adquire sem trabalho ou dedicação ao trabalho. Nada cai do céu, nada se concretiza sem  essa atitude pró-activa. Não basta ser bom nem acreditar na sorte ou fortuna, para alcançar o que quer que seja. É preciso trabalho e mais trabalho, para conseguir o que os ingleses gostam de chamar de achievement...

Não nos cingindo apenas ao factor laboral, destaco o trabalho como instrumento de perseguição daquilo que nós traçamos como objectivo. Desde o trabalho em construir uma relação, o trabalho em cuidar de alguém, o trabalho de regular os nossos, a nossa própria profissão, a nossa escola, tudo deve implicar esforço e dedicação estruturada.

Nesta esfera que nos rodeia, e em que interagimos com tudo e com todos, fica a sensação de que por vezes deveríamos passar mais tempo a construir coisas. E digo coisas, exactamente com esse sentido literal da palavra "o que existe ou pode existir". Ou seja, prevê e incluí algo que podemos vir a ser responsáveis por criar.

No fundo, tudo dá trabalho. Pensar, ler, escrever, relacionar-se, manter as relações, criar um filho, acordar de manhã, estabelecer ligações, fazer e desfazer novelos. Para alguns há situações que implicam maior ou menor esforço, mas todas têm um ingrediente secreto, que se transforma na chave do sucesso: o trabalho.

Nada acontece por acaso, e se por um outro acaso maior, queremos ou desejamos algo ou alguém como nada na vida, temos mais é que arregaçar as mangas e lutarmos, moldarmos,  empenharmo-nos, no fundo trabalharmos...

E com isto tudo se mantêm e evoluem estruturas, ligações, objectivos.
Por isso...mãos à obra!